domingo, 16 de junho de 2019

O propósito da meditação



O propósito da meditação é acalmar a mente, não de forma 
superficial, mas acalmar as Kilesas(contaminações mentais). As Kilesas nesse contexto são chamadas de Nivaranas(obstáculos), pois impedem o progresso da prática e distorcem a nossa visão das coisas. Os 5 Nivaravas são: desejo por objetos dos sentidos, aversão, torpor, ansiedade e dúvida. 

Concentrar a mente em um ponto, graças à incapacidade da mente consciente de ser multi-tarefa, faz os pensamentos se esvaírem pouco a pouco, até o ponto onde não há nenhum pensamento. Dessa forma, tendo cessado os pensamentos, os Nivaranas perdem o seu alimento. Em conseguinte, a ignorância(Avijja), aquilo que o Buddha define como sendo a origem primordial do sofrimento, perde, temporariamente, parte daquilo que a
 sustenta(os obstáculos). 

Uma forma pela qual os Nivaranas distorcem a nossa visão é através de um processo essencialmente circular conhecido como Vipallasa: As nossas percepções sobre os fenômenos são corrompidas pelas nossas ideias, e em seguida essas percepções distorcidas formam pensamentos que servem como base para apoiar essas ideias iniciais, sendo assim um processo de delusão que se retroalimenta.
O Buddha em um dos seus discursos definiu 3 tipos principais de distorções: Permanente em relação ao que é impermanente, felicidade em relação ao que é sofrimento e "eu" em relação ao que é "não-eu".

O Desejo Sensual, por exemplo, nos impede que vejamos que o objeto de prazer que almejamos é impermanente, insatisfatório e não-eu, tal como a sensação prazerosa que sentimos com ele.

Por isso o momento mais propício para os insights surgirem no meditador é logo após a experiência de Upaccara-Samadhi, que é o nível de concentração no qual os 5 obstáculos estão temporariamente bloqueados. Esses insights são justamente sobre o sofrimento, impermanência e não-eu(dukkha, anicca e anatta). 

Os insights consistem em ver, através da experiência direta, que todas as coisas materiais, sensações, percepções, formações mentais e a consciência, os 5 khandas, são impermanentes, ou seja, fenômenos que surgem e cessam de acordo com causas e condições. Desta forma, o apego à eles gera sofrimento. E como esses fenômenos são impermanentes e geram sofrimento, fica claro que eles não estão sob o nosso controle, afinal, se pudéssemos controlá-los faríamos de modo que estivéssemos sempre felizes, por isso dizemos que eles são não-eu. 
Esses insights são, portanto, o objetivo de todo praticante. A meditação é uma ferramenta neste processo.

É importante ressaltar que o significado de "eu" empregado nos Suttas budistas está relacionado com aquilo que pode ser controlado, e nenhum desses 5 khandas pode. Como não há nada que esteja sob controle, não há nada que possa estar no comando de um indivíduo, uma vez que cada pessoa é um conjunto desses 5 khandas.


Com Metta _/\_


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