segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Perguntas e respostas sobre budismo




Pergunta: Qual é a visão budista do suícidio?

Não há um julgamento moral em relação ao suicídio, existe inclusive um sutra em que um monge se mata para atingir a iluminação e isso não é criticado pelo Buddha, mas claro que isso é um caso muito específico, em geral as pessoas se suicidam para dar um fim ao sofrimento, mas modo geral, sabemos que o suicídio não resolve o problema do sofrimento, uma vez que cremos no renascimento, e o estado mental na hora da morte é extremamente determinante para o local em que esse fluxo karmico irá renascer.

Então morrer com uma mente repleta de sofrimento e aversão pode levar ao renascimento nos reinos inferiores.

Em contrapartida o nascimento humano é considerado raro e precioso.

Raro porque é muito difícil de obter, os sutras comparam a raridade do nascimento humano com uma tartaruga cega em um oceano infinito, que a cada 100 anos sobe para a superfície, a chance de nascer como humano é como a chance dessa tartaruga acertar uma única boia que está na superfície desse oceano infinito.

E é precioso pois é a forma de vida onde é mais propício que a iluminação ocorra, pois há um equilíbrio entre a quantidade de sofrimento e de felicidade que experimentamos por aqui.

Então desperdiçar essa oportunidade rara e preciosa é perpetuar o sofrimento samsárico.





Pergunta: O budismo veio do Hinduísmo?

O Hinduísmo que a gente conhece hoje em dia é muito distante do brahmanismo que existia na época do Buddha, e que também não era a religião predominante na índia.

A Índia sempre foi repleta de diferentes formas religiosas.

O budismo é sim influenciado pela cultura indiana antiga, mas rompe absolutamente com o brahmanismo da época.

Ao longo dos séculos tanto o “Hinduísmo” quanto o Budismo influenciaram-se mutuamente, é uma influência que parte dos dois lados, e isso explica as semelhanças.

Não existiam sequer brahmanes em Kapillavathu, a cidade em que Buddha nasceu.

O que chamamos de Hinduísmo hoje, que é uma síntese de diversas crenças que existiam na Índia antiga.

Portanto é incorreto dizer que o Budismo veio do Hinduísmo.




Pergunta: Os animais são inferiores?
Resposta: Todos nós já renascemos no reino dos animais incontáveis vezes. De fato, em geral, o renascimento no reino humano é um renascimento melhor que o renascimento no reino dos animais, por conta do sofrimento que os animais experienciam ser em geral superior ao que os humanos experienciam, no entanto isso só deveria servir de impulso para desenvolvermos compaixão por esses seres. Todos os seres são iguais em sua aspiração pela felicidade e em não sofrer.

Além disso, todos os seres possuem a natureza budica (Tathagatagharba), pois, a mente do Buddha é o Dharmakaya, o Dharmakaya é a vacuidade, e a vacuidade permeia todos os seres em todos os reinos.


Pergunta: Há um livro que contenha somente ensinamentos atribuídos ao Buda:

O Dhammapada.

E a maioria dos sutras dos Cânones em Pali e Chinês são ensinamentos atribuídos ao Buddha, quando não o são, são de discípulos dele. No Cânone Tibetano também há uma variedade de sutras que são atribuídos ao Buddha.
Os links em Português:

Dhammapada: https://sumedharama.pt/Dhammapada%20de%20Buddharakkhita.pdf

Boa parte dos suttas do Cânone em Pali: https://www.acessoaoinsight.net/sutta/indice_suttas.php

Alguns sutras do Cânone Chines, a partir do livro Budadharma: https://drive.google.com/file/d/1Ac7e0zAJkyki1FeTRJoXwR0eb80FbPjM

Do Cânone Tibetano infelizmente não há muita coisa traduzida para o português, em inglês há o site organizado por Dzongsar Khyentste Rinpoche: https://84000.co

Vale ressaltar que o Buddha não escreveu nada. Nos primeiros concílios após a morte do Buddha, os monges se reuniram e recitaram os ensinamentos e regras monásticas. Inicialmente o Ven. Ananda recitou os discursos do Buddha, pois ele foi o monge que passou mais tempo ao lado do Buddha e tinha uma memória excepcional. E o Ven. Upali recitou o Vinaya, que contém as regras monásticas e textos relacionados à elas.

Os ensinamentos do Buddha foram passados oralmente por um tempo considerável antes que algo fosse escrito. Por isso os sutras começam com “Assim ouvi”, é dito que o Ven. Ananda, por respeito ao Buddha, sempre iniciava as recitações dessa maneira.


Pergunta: Se uma árvore cai no bosque e não tem ninguém para ouvir, que som ela faz?
Resposta: No ocidente essa indagação faz parte da filosofia Idealista, onde acredita-se que apenas a mente existe e todo o resto é apenas uma criação dela. No budismo, algo semelhante ao idealismo surgiu com o nome de Chitamatra(mente apenas) no contexto da escola Yogachara. Do ponto de vista filosófico, essa visão de mundo idealista não foi adiante no budismo, foi refutada pela escola filosófica Madhyamaka Prasanghika, a escola do caminho do meio, que melhor explica sobre a vacuidade(ausência de existência independente dos fenômenos). Do ponto de vista prático, essa visão Yogaccara é muito usada e muito útil, em especial no Budismo Tibetano, é usada como forma de prática.
Existe uma discussão no ocidente sobre se a escola Yogachara se aproximava mais do Idealismo ou da Fenomenologia.

A experiência do som da árvore caindo, depende de vários fatores: ar, árvore, vento, ouvido, mente, etc.
No budismo dizemos que para o contato surgir é necessário objeto, base do sentido e consciência do sentido(nesse caso consciência auditiva), se não há um ouvido e uma mente para que surja o ‘contato’, essa experiência em si não existe, o que existe é uma outra coisa. Os fenômenos não possuem existência inerente, eles surgem na dependência de vários outros fenômenos, por isso chamamo-los de ‘vazios’.


Pergunta: O que é meditar?
Resposta: No budismo se refere ao termo em pali ‘bhavana’ que significa ‘desenvolvimento mental’.

Geralmente está associado ao cultivo de concentração (samadhi) e de sabedoria (insight).

No que se refere a samadhi a prática geralmente consiste em direcionar e sustentar a concentração em um objetivo específico de meditação, o mais comum é a sensação da respiração, mas há dezenas de outros objetos que podem ser utilizados.

A medida em que a sua concentração nesse objeto meditativo se aprofunda, os Cinco Obstáculos (Nivaranas) vão sendo pouco a pouco bloqueados.

No ápice dessa concentração meditativa, chegamos em Upaccara-Samadhi ou Apana-Samadhi, em ambos os estágios a mente está livre temporariamente dos Cinco Obstáculos(desejo, aversão, inquietação, dúvida e torpor).

Segundo os textos budistas (Suttas) esses obstáculos funcionam como alimento para a ignorância. Eles alimentam o processo de distorção (vipalasas) que atuam no nível da percepção, ideias e pensamentos.

As principais distorções que nos mantém atados ao Samsara são as que nos impedem de ver a natureza impermanente, insatisfatória e impessoal dos fenômenos.

Portanto, quando a mente está munida de samadhi é o momento ideal para o desenvolvimento de Insight (sabedoria).

E é aí que entram as meditações de insight como Vipassana por exemplo, que se baseia justamente em contemplar a impermanência, o sofrimento e a impessoalidade dos fenômenos.

No budismo Mahayana e Vajrayana também é comum a contemplação do vazio dos fenômenos, a falta de uma natureza inerente ao que quer que seja.

Também existem meditações onde nos abrimos e observamos todos os fenômenos que surgem, sem julgamentos.

Há outras formas de meditação como o Dzogchen, onde o praticante repousa na natureza primordial da mente(rigpa), mas em geral é recomendado que se façam certas práticas preliminares antes de desenvolver o Dzogchen, como o Ngondro por exemplo.


Pergunta: O que o budismo acha sobre o uso de Cannabis?
Resposta: De fato, na maioria das tradições budistas existe um preceito que fala sobre ‘drogas’, no Budismo Tibetano ele não se inclui entre as Dez Não-Virtudes, mas também não tem o seu uso encorajado nessa tradição.
O preceito em questão em pali é “Suramerayamajja pamadatthana veramani sikkhapadam samadiyami”
A palavra “pamadatthana” se refere a qualquer substância que cause negligência em relação a atenção plena (sati) e à outros aspectos do Caminho Óctuplo.
É importante entender que o preceitos budistas não devem ser tomados como um conjunto de dogmas sob os quais erguemos a moralidade de uma sociedade. Os preceitos budistas são uma forma de prática, tem fins práticos. Cada preceito budista tem um fim prático dentro do Caminho Óctuplo, no caso do preceito que fala sobre ‘substâncias que causam negligência’ o Buddha se refere à substâncias que podem prejudicar a sua Atenção Plena Correta, o seu Esforço Correto, a Fala Correta, a Ação Correta, o Entendimento Correto e por aí vai, que são aspectos centrais e importantes no caminho budista.
Então os preceitos não devem ser levados como uma forma de apontar o certo e o errado, ou a forma pela qual uma sociedade deveria se comportar, os preceitos são uma prática – com fins práticos.


Pergunta: O que há entre a morte e o renascimento?

Resposta: No budismo tibetano acreditamos que existem estados intermédios entre a morte e o renascimento, que são chamados de bardos. A experiência no bardo é muito importante para determinar o renascimento, e existem práticas de transferência de consciência para as terras puras, por exemplo, que é a prática de Powa.
Para um descrição mais detalhada sugiro ler o Bardo Thodol(Livro Tibetano dos Mortos).
Há essencialmente 4 bardos:
O bardo da vida(o que estamos agora), o bardo da morte(que abarca o processo de morrer, do início ao fim), o bardo do dharmata e o bardo do vir a ser.
Entre o bardo da morte e o bardo do dharmata há a experiência de Clara Luz, onde, com a mente completamente livre de obscurecimentos e dos cinco sentidos físicos, a natureza da mente – Rigpa – se mostra para nós. Este é o momento mais propício para se atingir a iluminação, mas é necessário estar familiarizado com tais ensinamentos sobre a natureza da mente para realizar a iluminação nesse momento. A maioria das pessoas não conseguem reconhecer a natureza da mente nesse estágio por causa dos hábitos acumulados durante vários kalpas.
Em seguida vem o bardo do dharmata, a chave para a realização desse bardo é a compreensão que todas as experiências que nele ocorrem são parte da radiancia original da natureza da nossa mente.
Se tomarmos essas manifestações de maneira errônea, como sendo algo separado de nós, surgirá medo ou esperança, e isso só fortalecerá a ignorância.
No bardo do dharmata, há quatro fases

Luminosidade: “o espaço se dissolve na luminosidade”. Onde tudo são luzes e cores, claras e radiantes. A estabilidade dessas visões depende das realizações que você atingiu na prática de Tögal. A realização pode ocorrer nessa fase, se reconhecermos que todas essas manifestações não tem existência separada da natureza da mente. Não havendo esse reconhecimento passa-se para a próxima fase.
União.
Nessa fase, as luzes e radiancias da fase anteriores se manifestam na forma das quarenta e duas deidades pacíficas e cinquenta oito deidades iradas. Nessa fase pode ocorrer muito medo e pânico.
Raios de luz ligam seu coração aos das deidades. As deidades se dissolvem em você. Se não houver o reconhecimento da natureza da mente vem a próxima fase.
Sabedoria:
Nessa fase as luzes se manisferam em vários aspectos de sabedoria (nas cinco sabedorias). Há a manifestação do nosso potencial para a iluminação. Se não há o reconhecimento de Rigpa, vem a última fase do bardo do dharmata.
Presença espontânea:
Nessa fase toda a realidade se apresenta como um espetáculo. Todas as deidades pacíficas e iradas, os reinos de existências, os reinos budicos. Se não houver o reconhecimento da natureza da mente nessa fase, o bardo do dharmata chega ao fim, e vem o bardo do vir a ser.
“Agora que o bardo do dharmata desponta sobre mim,
Abandonarei todo medo e terror.
Reconhecerei tudo o que aparece como a manifestação do meu próprio Rigpa,
E saberei que é a manifestação natural deste bardo,
Agora que alcancei esse ponto crucial,
Não temerei as deidades pacíficas e iradas que surgem da minha própria mente”
O bardo do vir a ser é o bardo anterior ao nascimento. Nesse bardo nos manifestamos como um corpo mental, embora possa parecer que temos um corpo físico e solido, com gênero, não percebemos que estamos mortos. Nessa fase podemos voltar para a nossa casa e ver nossa família, mas não conseguimos toca-los ou falar com eles. Podemos tentar retornar ao nosso corpo físico, mas sem sucesso. Então podemos perceber que morremos.
Nesse bardo podemos ter muitas experiências desagradáveis, reflexos da nossa própria raiva, desejo e ignorância, e do karma que cultivamos em vida. Há muitas flutuações de humor, entre felicidade e sofrimento. A nossa percepção está sempre mudando nesse bardo. Nele surge o desejo por um corpo fisico. Esse desejo vai se intensificando, e muitos sinais vão surgindo demonstrando em que reino vc renascerá. Há práticas para impedir o renascimento. Abandonando as emoções negativas e vendo os seus futuros pais como um Buddha ou yidam.
O Bardo Thodol é um livro que se propõe a guiar uma pessoa morta para ter um renascimento bom, nas terras puras, é uma prática de transferência de consciência,l.
A prática da Yoga dos Sonhos é muito importante para se preparar para a morte. A experiência de adormecer é semelhante ao bardo da morte, onde tudo se dissolve. Sonhar é semelhante ao bardo do vir a ser, onde vc tem um corpo mental. O estado de Clara Luz anterior ao bardo do dharmata também aparece para nós quando dormimos.
Na Yoga dos Sonhos treinamos a lucidez durante o processo de adormecer e durante os sonhos e isso é muito útil quando morremos (e quando estamos vivos também, pois podemos usar os sonhos para praticar o dharma). O modo como a nossa mente está nos estados de sono e sonho, indica como ela estará nos bardos do pós morte.
Devido ao karma acumulado os seres perambulam pelos 6 reinos, ou 31 para ser mais exato. Experimentando tanto a felicidade extrema dos reinos superiores dos devas e brahmas, como o sofrimento extremo dos infernos e dos pretas. E os bardos como expliquei acima são os estados intermediários entre uma vida e outra.
Há breves referências a ideia do bardo nos textos em pali, quando se fala sobre atingir a iluminação no intervalo de uma vida e outra.


Pergunta: No budismo existe fim do mundo?
Resposta: A cosmologia budista diz que o Universo passa por ciclos de expansão e contração, cada expansão e contração representa 1 ciclo cósmico(kalpa), ao fim de cada ciclo o Universo termina e recomeça.
Dentro do budismo tibetano, é dito que o mundo será consumido pelo fogo sete vezes, inundado pela água uma vez e dispersado pelo vento. O Monte Meru, tido como centro do cosmo dentro do budismo, irá desmoronar, e isso marcará o fim deste ciclo cósmico. Segundo o Cânone Pali durante esse período de destruição os seres passam a renascer no reino de Abhassara, que faz parte do reino da matéria sútil, e escapa da destruição.


Pergunta: Existem deuses no budismo?
Resposta: O Buddha não nega explicitamente a existência de deuses, mas ele tira o status divino de alguns deuses hindus no suttas, mostrando-os como seres com renascimentos elevados mas que possuem a ilusão de serem deuses criadores.
Além disso, ao estudar a cosmologia budista não há muito espaço para a existência de deuses ali, o Universo tem um carácter puramente autossuficiente, com ciclos de expansão e contração.
Na verdade, o Brahma não é visto como um criador do Universo no Cânone Pali.
Os comentários canônicos sugerem que ele criou a delusão de ser uma entidade criadora por ter sido o primeiro ser a renascer no reino dos Brahmas nesse ciclo cósmico – devido ao seu karma – e ter visto todos os outros renascendo em seguida.
De fato ele está atado ao Samsara, alguns Suttas indicam que ele está preso à Paticca-Samupada – originação dependente – e portanto não está livre de futuros renascimentos em reinos inferiores. Mas o Buddha reconhece que o seu poder e visão são bastante amplos.


Pergunta: Existe céu e inferno no budismo?
Resposta: Existem 31 reinos de existência na cosmologia budista, dentre eles existe o inferno, que na tradição Tibetana é dividido em 18 infernos. Existem reinos superiores onde há muita felicidade e prazer, que talvez possa ser interpretado como “céu”. Os seres perambulam por esses reinos de existência devido ao karma acumulado ao longos de suas muitas vidas.


Pergunta: O Budismo acredita em reencarnação?
Resposta: Em renascimento. No budismo não existe a ideia de uma entidade permanente como alma ou espírito que renasce de uma vida para a outra, embora a ideia de uma “consciência armazenadora” do karma que perdura de uma vida a outra tenha surgido no Abbidhamma do Cânone Pali como bhavanga-sota e na escola yogaccara como alaya-vijnana, isso é amplamente rejeitado pela maior parte do budismo como uma forma de explicar o renascimento, embora tenha fins contemplativos. Pois entra em contradição com alguns ensinamentos tais como os expostos pela escola Madhyamaka de Nagarjuna e Chandrakirti e pelos ensinamentos de Anatta.
De fato, de acordo com o ensinamento sobre a Originação Dependente(Paticca-Samupada) é dito que das formações volitivas como condição surge a consciência e da consciência como condição surge a mentalidade-materialidade (nama-rupa), que é a união entre mente e corpo, a união entre o agregado físico(corpo) e os agregados mentais(sensações, percepções, formações mentais e consciência), mas não há uma coisa que permaneça de uma vida para a outra, é simplesmente um fluxo de causalidade(causa e efeito), o “conjunto kármico” condiciona um novo renascimento.



Pergunta: O que é a esperança para o budismo?

Esperança é um termo complicado, acho que não existe palavra equivalente em pali ou sânscrito.

Esperança seria esperar por um futuro melhor, certo? Então talvez possamos abordar o tema com as definição de desejo e aspiração: tanha e chanda, respectivamente.

‘Tanha’ tem relação com desejar prazeres dos sentidos e/ou a existência ou inexistência em um dos reinos de existência. Nesse caso, a “esperança” não é benéfica, sendo uma causa para o sofrimento e para o cultivo de karma inábil.

‘Chanda’ é mais amplo, pois inclui ‘Tanha’, mas também está relacionado a aspirar o bem de alguém por exemplo, ou que o Dharma do Buddha floresça, que são coisas benéficas. Nesse caso, a esperança não é necessariamente uma causa para sofrimento, podendo, ter até o efeito oposto.

Essa distinção entre hábil e inábil, benefício e maléfico é muito importante no contexto do Nobre Caminho Óctuplo, especificamente no Esforço Correto, onde nos empenhamos em desenvolver qualidades mentais hábeis e em abandonar qualidades mentais inábeis.



Pergunta: O que é o Não-Eu (Anatta) no Budismo?
Resposta: Segundo o Cânone Pali, todas as formas, sensações, percepções, formações mentais e consciência (khandas/skandas) são não-eu(anatta).
O que o Buddha quer dizer ao falar que esses fenômenos são não-eu, é que nenhum deles é passível de controle: as formas, sensações, percepções, formações mentais e a consciência não são controláveis, não existe nenhum Eu que comande elas. Isso fica bastante claro no Culasaccaka Sutta, quando o Buddha pergunta a um discípulo se podemos controlar algum dos 5 Khandas da mesma maneira que um rei consegue controlar o seu reino.
O Buddha deixou claro isso também quando expôs que um dos grilhões para a realização da iluminação é o Sakkaya-Ditthi(a ilusão de um Eu).
Acho que é também necessário explicar o que o Buddha toma como “consciência”, a consciência para o Buddha não é um fenômeno contínuo, e sim discreto, um fenômeno que surge e cessa várias ao longo de um dia. Quando você vê um objeto visual, a consciência no olho surge, essa consciência visual surge na dependência do objeto visual, da base do sentido(olho) e da consciência propriamente dita, quando o objeto visual não estiver mais ali, ou você focar em outro objeto, essa consciência desaparecerá e dará lugar a outra consciência.


Pergunta: Os budistas são vegetarianos?
Resposta: Depende da tradição. A maioria das tradições não são vegetarianas, talvez porque a cultura budista foi da mendicância, os monges no Theravada mantém a tradição – que vem da época do buddha – de esmolar alimentos na rua. Sendo um mendicante não dá para escolher o alimento que lhe será oferecido.
Mas o vegetarianismo é completamente compatível com o budismo, tendo em vista que um preceito básico do budismo é não matar.
Há sutras Mahayana como o Brahmajala e o Lankavatara, que dizem que não devemos comer carne.


Pergunta: O que é Buda? Jesus era um Buda?
Resposta: Segundo o Cânone Pali um Buddha é aquele que descobre e propaga o Dhamma em um período que o Dhamma não está disponível no mundo. O Buddha atual é Sakyamuni, antes dele foi Kassapa e depois será Maitreya.
Sendo esse o caso, a discussão deve ser sobre ele ser ou não um Arahat(alguém que atingiu a iluminação). Um Arahat é aquele destruiu todos os dez grilhões (Samyojanas): idéia da existência de um eu (identidade) (sakkaya-ditthi), dúvida (vicikiccha), apego a preceitos e rituais (silabbata-paramasa); desejo sensual (kama-raga), má vontade (vyapada); desejo pela forma (rupa-raga), desejo pelos fenômenos sem forma (arupa-raga), presunção (mana), inquietação (uddhacca), e ignorância (avijja).
Não temos informações suficientes para determinar se Jesus cumpre esse requisito.
Do ponto de vista do Budismo Mahayana, todos podem se tornar budas, há dez estágios para um Boddhisatva (bhumis), após ter passado por todos a pessoa se torna um Buddha. Então também não temos informações suficientes para avaliar.
Uma outra definição para Boddhisatva nas tradições Mahayana, que não necessariamente se refere a alguém em um dos bhummis, é: Alguém que gerou Boddhichita, que é o desejo de beneficiar todos os seres sencientes.
Mais profundamente a Boddhichita se divide em Boddhichita da aspiração e boddhichita da ação.
A Boddhichita da aspiração em geral está associada aos Quatro Brahmaviharas(estados mentais dos Brahmas): compaixão, amor bondade, equanimidade e alegria altruísta.
a Boddhichita da ação está associada aos Seis Paramitas(perfeições): generosidade, virtude, sabedoria, resiliência, energia e concentração (samadhi).


Pergunta: A visão budista do início do Universo

Resposta: O Buddha diz que Universo não tem um início que possa ser discernido. Embora o Buda fique em silêncio ao ser perguntado se o Universo é eterno, é perfeitamente compatível com a ideia de que todo fenômeno tem um causa anterior a ideia que o Universo não tenha começo.
Na perspectiva da cosmologia budista, o Universo surge e cessa, cada surgimento e cessação representa um mahakappa(mahakappa).
No momento estamos em um período de expansão do Universo, futuramente haverá um período de contração, nesse período de contração que precede a destruição do cakkavala em que estamos, os seres vão renascer principal nos reinos dos brahmas. Em seguida, há a destruição do cakkavala, no caso do mahakappa em que estamos a destruição será pelo fogo, surgirão mais 6 sols e queimarão tudo. 
Depois disso, os seres que renasceram nos reinos de abhassara irão renascer aqui, e, ao desenvolverem desejos pelos prazeres sensuais vão se tornando cada vez mais grosseiros e mais parecidos com os humanos, deste ponto até o fim do mahakappa, os humanos vão declinando moralmente. Quando o brilho que esses antigos brahmmas, agora humanos, desaparece, o sol e a lua se tornam visíveis. O surgimento da propriedade privada e do governo representa um declínio da humanidade.

Pergunta: o que são os 5 agregados?

Resposta:
Você está se referindo aos 5 skandas ou khandas, que geralmente são traduzidos como "5 Agregados", que são: forma, sensação, percepção, formações mentais e consciência. É dito que é através da experiência nesses 5 agregados que surge a delusão do "eu", pois são os elementos que constituem essa experiência que chamamos de 'indivíduo' e pelos quais ele experimenta o mundo . Quando o Buddha enuncia as suas Quatro Nobres Verdades, ele diz que, em resumo, os 5 Agregados Influenciados pelo Apego são o sofrimento.
A forma é o seu corpo.
As sensações são as experiências de prazer, dor e neutralidade que surgem no contato com os 6 sentidos(5 sentidos convencionais + a mente).
A percepção é o filtro pelo qual você enxerga as coisas.
As formações mentais são pensamentos, emoções, volição, etc.
A consciência é o ato de conscientizar. A consciência no budismo não é algo contínuo, ela surge e cessa diversas vezes ao longo de um dia, por isso falamos em 'consciência no olho', 'consciência no ouvido',..., 'consciência na mente'. A consciência surge na experiência de conscientizar ago. Quando você vê uma imagem surge a consciência no olho, ao ouvir um som em seguida, surge a consciência no ouvido, e por aí vai.



O que é o Nirvana?

Nirvana/Nibbana significa literalmente o "extinguir de uma chama". É o cessar do fogo da cobiça, aversão e delusão. 

Na perspectiva Theravada o Nibbana é alcançado com a realização do estado de Arahat, quando a mente superou os 10 grilhões(samyojanas), a saber: idéia da existência de um eu, dúvida, apego a preceitos e rituais, desejo sensual, má vontade, desejo pela forma, desejo pela não-forma, presunção, inquietação e ignorância.

Na perspectiva Mahayana há ainda um "outro tipo" de Nirvana(Apratiṣṭhita-nirvāna) que ocorre quando se realiza o Estado de Buda tendo passado por cada um dos Dez Bhummis do Boddhisatva, esse Nirvana é definido como "além do sofrimento do samsara e a paz do nirvana", ele está além da dicotomia samsara vs nirvana . Nessa definição é aceita a ideia de que alguém plenamente iluminado retorne pelo benefício dos seres.

No Vajrayana há uma definição dada por Patrul Rinpoche que divide o Nirvana em quatro tipos:
- Nirvana Natural, que é o estado inerente de tudo.
- Nirvana não permanente, que é o grande Nirvana além da existência samsárica comum e do nirvana menor do veículo básico.
- Nirvana com resíduo, que é a realização alcançada pelos arahats do veículo básico que ainda não abandonaram os agregados psicofísicos.
- Nirvana sem resíduo, a realização consumada dos arahats do veículo básico, que passaram a um estado de cessação, deixando para trás seus agregados psicofísicos.

Pergunta:O buda disse que o sofrimento é causado pelo apego, a ansiedade e a depressão também são?
Resposta: 
De acordo com os ensinamentos relativos a originação dependente a causa raiz do sofrimento é a ignorância, não ver a verdadeira natureza dos fenômenos, isto é, impermanentes, insatisfatórios, impessoais e insubstanciais.
Talvez a ansiedade e a depressão patológicas não tenham origem propriamente dita nessa ignorância e sim em desequilíbrios bioquímicos no cérebro, mas certamente o sofrimento que surge baseado nas sensações, emoções e percepções criadas por esse desequilíbrio se da por não perceber a real natureza deles.
A ignorância é explicada mais detalhadamente atuando como um processo de distorção(vipalassa) da visão, percepção e pensamentos, essas distorções se sustentam mutuamente impedindo que vejamos como as coisas de fato são, e o cultivo de samadhi(concentração meditativa) é tido como a melhor ferramenta para enfraquecer esse ciclo e  permitir que obtenhamos o insight. Um aspecto importante no cultivo de samadhi é o desenvolvimento de boas qualidades mentais como compaixão, amor bondade, alegria altruísta e equanimidade, e acredito que essas qualidades são ainda mais importantes e benéficas para quem está enfrentando problemas com depressão e ansiedade.
Claro, se você possui alguma dessas patologias é recomendado buscar ajuda com um psicólogo e um psiquiatra, porque nem sempre a prática espiritual consegue dar conta sozinha disso, e em alguns casos pode até piorar sem o acompanhamento adequado.

Pergunta: Muriçocas e mosquitos são seres sencientes?
resposta:  No budismo para a consciência existir é preciso existir sensação(a capacidade de sentir prazer e dor), percepção e intenção, então sim.
"É como se dois feixes de junco estivessem em pé se apoiando um no outro. Da mesma maneira, da mentalidade-materialidade como condição, a consciência [surge], da consciência como condição, a mentalidade-materialidade "

PS: mentalidade-materialidade é a união dos agregados físicos(corpo) e os mentais (sensação, percepção, formação mental e consciência).


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