domingo, 16 de setembro de 2018

A Tradição Theravada




O Theravada é a tradição mais antiga existente atualmente no budismo. Historicamente o Theravada surgiu em uma divisão na Sangha Monástica que ocorreu anos após a morte do Buddha, causada por divergências a respeito de mudanças no Vinaya Pitaka, código de disciplina monástica estabelecido pelo Buddha para os monges.  Ao longo dos concílios as divergências foram se agravando até que o filho do Imperador Asoka, juntamente com um grupo Bhikkhus, levou o Tripitaka para o Sri Lanka onde mais tarde formaram a tradição Theravada, que significa, em Pali, "A Doutrina dos Anciões", esses monges eram contra quaisquer alterações no Vinaya Pitaka.
O Ven. Ananda recitou o que viria a ser chamado de Sutta Pitaka, que são os discursos proferidos pelo Buddha e por outros Bhikkhus. O Ven. Upali recitou o que viria a ser chamado de Vinaya Pitaka
A tradição se baseia nos ensinamentos contidos no OTripitaka, que acreditamos serem transcrições dos ensinamentos proferidos por Buddha e alguns dos seus discípulos sêniores. O Cânone em Pali(tripitaka) foi escrito originalmente no idioma Pali, anos após o parinibbana do Tathagata, e é dividido em 3 partes: Sutta Pitaka, Vinaya Pitaka e Abhidamma Pitaka. O Sutta Pitaka são os discursos proferidos pelo Buddha e por seus discipulos. O Vinaya Pitaka diz respeito às regras monásticas. E o Abhidhamma são os comentários feitos por alguns Bhikkhus. Cerca de 70% do Sutta Pitaka está traduzido para o português e pode ser acessado gratuitamente no site Acesso ao Insight.
Os ensinamentos do Budismo Theravada podem ser resumidos no que chamamos de Quatro Nobres Verdades.
A Primeira Nobre Verdade diz que existe o sofrimento(Dukkha em Pali) nos Cinco Agregados do Apego. A nossa experiência da realidade se da através desses Cinco Agregados, primeiro temos a forma física. Entramos em contato com o mundo físico através dos sentidos(os cinco sentidos convencionais e a mente), e a partir desse contato surgem as sensações. Das sensações criamos percepções associadas a informação recebida, essas percepções são condicionadas pelas nossas experiências, são as nossas ideias ou rótulos. E em seguida uma emoção ou impulso surge em resposta à esta percepção. Por último, temos à consciência em cada um dos meios dos sentidos. Para exemplificar podemos imaginar que estamos tentando dormir para acordar cedo no dia seguinte, quando estamos prestes a pegar no sono "CABUM", ouvimos uma explosão causada por fogos de artifício, é gol do Flamengo. Podemos ficar bem raivosos por causa disso. O som é a 'forma', o primeiro agregado.A sensação do som pode ser agradável, desagradável ou neutra. O pensamento "fogos de artifício" é a percepção, ninguém nos disse o que aquilo era, mas sabíamos intuitivamente graças às nossas experiências anteriores. A raiva que surge a partir disso pode ser considerada o quarto agregado, a formação mental, que está intimamente relacionada com os nossos Kammas. Tendemos a mistificar a palavra Kamma ou Karma, mas ela basicamente diz respeito as nossas ações/reações automáticas aos estímulos sensoriais, que podem se desenvolver através do hábito ou doutrinação. O Buddha está dizendo, que a experiência nesses Agregados do Apego é sofrimento.
É importante ressaltar que sofrimento aqui pode ser interpretado de várias formas, insatisfação, preocupação, medo, angústia, assim como qualquer forma de inquietação mental são formas de sofrimento para o budismo. 

A Segunde Nobre Verdade diz que há uma causa para esse sofrimento, que chamamos de Originação Dependente. O Buddha explica através da causalidade(causa e efeito) entre Doze Elos, a origem do sofrimento. No Paticca-samuppada Sutta, encontramos o seguinte:

"Da ignorância como condição, as formações volitivas [surgem].
Das formações volitivas como condição, a consciência. 
Da consciência como condição, a mentalidade-materialidade (nome e forma). 
Da mentalidade-materialidade (nome e forma) como condição, as seis bases dos sentidos. 
Das seis bases dos sentidos como condição, o contato. 
Do contato como condição, a sensação. 
Da sensação como condição, o desejo. 
Do desejo como condição, o apego. 
Do apego como condição, o ser/existir. 
Do ser/existir como condição, o nascimento. 
Do nascimento como condição, então o envelhecimento e morte, tristeza, lamentação, dor, angústia e desespero surgem. Essa é a origem de toda essa massa de sofrimento.

Isto bhikkhus é chamado origem dependente." 


Parece complicado, mas o que ele quis dizer essencialmente, é que a ignorância(Avijjia em Pali) é a origem de todo o sofrimento. Por isso, é dito que Nibbana surge através do Entendimento Correto dos fenômenos físicos e mentais,.
A Terceira Nobre Verdade diz que existe a cessação desse sofrimento, Nibbana, que surge com o fim de toda a cobiça, raiva e delusão, que é a experiência incondicionada.
Na Quarta Nobre Verdade,  o Tathagata nos diz o caminho para a cessação do sofrimento, O Nobre Caminho Óctuplo: Entendimento Correto, Concentração Correta, Atenção Plena Correta,  Fala Correta, Modo de Vida Correta, Ação Correta, Esforço Correto e Pensamento Correto.
Podemos resumir esses 8 treinamentos no desenvolvimento de 3 aspectos: Virtude, Concentração e Sabedoria(Sila, Samadhi e Pañña). 
No desenvolvimento da virtude eles nos encoraja à praticar os Cinco Preceitos: não roubar, não matar, não tomar intoxicantes, não fazer sexo impróprio e não mentir. Além de incentivar a prática da compaixão e da generosidade. Buddha em um diálogo com seu filho e discípulo Rahula recomenda-o, antes de fazer qualquer coisa, em termos de corpo, fala e mente, se perguntar: "Quais serão as consequências que você pode esperar dessa ação?" Se você prever que a ação irá prejudicar a você mesmo ou outro pessoa, não faça.
No desenvolvimento da concentração Buddha nos ensina os Quatro Fundamentos da Atenção Plena(Satipatthana). Que se baseiam em manter atenção plena e plena consciência ao corpo, sensações, mente e objetos mentais. Ele está dizendo para os seus discípulos manterem total atenção ao próprio corpo, às sensações, aos pensamentos, às emoções, etc. Dentro da atenção plena, Buddha nos ensinou a meditação Anapanasati, que é a atenção plena na respiração. É uma técnica muito importante no Budismo, pois é o modo mais rápido para o desenvolvimento dos 4 Jhannas, que são os níveis mais elevados de concentração que alguém pode atingir. Os Jhannas são estágios caracterizados por total concentração, êxtase e felicidade, e posteriormente, equanimidade, um estado mental no qual a mente do indivíduo fica impassível aos humores que surgem e desaparecem na mente, ela não os segue. Esses estágios são alcançados com a suspensão temporária dos Cinco Obstáculos:desejo sensual, aversão, torpor, ansiedade e dúvida, que se manifesta com a cessação do pensamento.
A sabedoria é desenvolvida ao enxergarmos a verdadeira natureza dos fenômenos: Dukkha, Anicca e Anatta(sofrimento, impermanência e 'não-eu)'. Segundo Buddha todo fenômeno condicionado está sujeito a impermanência, pois existe através de causas e condições que mudam a cada instante. E não estamos no controle de como essas coisas mudam, não podemos decidir quando iremos perder os nossos entes queridos, bens materiais, etc, não estamos sequer no controle do nosso próprio corpo, portanto o apego e a identificação com esse fenômenos gera sofrimento. 
O estado de Arahant é alcançado por aquele que desenvolveu completamente o Nobre Caminho Óctuplo.



"Então, o Abençoado disse para os bhikkhus: “Dessa forma, bhikkhus, eu os encorajo: todas as coisas condicionadas estão sujeitas à dissolução. Esforcem-se pelo objetivo com diligência”. Essas foram as últimas palavras do Tathagata."



      edit

0 comentários:

Postar um comentário