domingo, 16 de setembro de 2018

Prática Budista: Uma Visão Geral do Caminho Gradual Theravada




No Budismo a moralidade precede até mesmo a meditação. É necessário ter uma base moral sólida baseada nos Cinco Preceitos para fazer qualquer progresso na prática budista. Esses preceitos mantém a mente purificada e a protege de contaminações provenientes do contato social.

Os preceitos são: não matar; não tomar o que não lhe foi dado; não usar a fala de maneira inadequada, isto é, não mentir ou usar a fala de maneira inútil ou para fortalecer o próprio ego ou de outrem, ou como forma de agredir; não tomar substâncias que tirem a clareza mental(álcool e drogas); não usar o sexo de maneira inadequada(traição, estupro, etc). 
Não é muito difícil notar a importância de tais preceitos como parte integrante e crucial no desenvolvimento budista, seguindo esses preceitos estamos tirando o grosso das inquietações mentais e abrindo espaço pra trabalharmos a mente em um nível mais sofisticado. 
A meditação:
O que fazemos na meditação Anapanasati(atenção plena na respiração), que é apenas um dos 40 objetos de meditação ensinados por Buddha,  é focar a atenção plena em um objeto, no caso a respiração. O objetivo é manter o pensamento aplicado e sustentado nesse objeto, de modo a não gerar pensamentos acerca de quaisquer outras coisas, mesmo que ocasionalmente eles venham a surgir - e irão- sempre retornamos, quantas vezes for necessário, a atenção à sensação do ar entrando e saindo, tocando na entrada das narinas. Quando sustentamos o pensamento, vamos enfraquecendo o que chamamos de Nivaranas, ou Cinco Obstáculos, que são desejo sensual, aversão, ansiedade, preguiça e dúvida, pois não estaremos mais alimentando-os com preocupações, idealizações, remorsos, etc. Esses Nivaranas, servem de sustento para a ignorância, que é tida como a causa principal do sofrimento . A ignorância significa não ver as coisas tais como são: impermanentes(Anicca), insatisfatórias(Dukkha), não sendo eu/meu(Anatta) e vazias de uma natureza inerente(Sunnyata). E o que não vemos tal como é? Os Cinco Agregados do Apego: Formas, sensações,  percepções, formações mentais e consciência. As formas dizem respeito às coisas que podem ser experienciadas através dos sentidos, tais como corpos, cheiros, sabores, etc. As sensações podem ser o prazer, a dor ou neutra. As percepções são as nossas ideias ou rótulos a respeito dos fenômenos. As formações são as nossas intenções ou impulsos provenientes do contato com esses fenômenos. E a consciência realiza a cognição em cada meio do sentido. É a experiência nesses Agregados do Apego que chamamos de sofrimento. É importante notar que estamos usando o termo "Agregados do APEGO", o problema surge quando há apego à esses fenômenos.  Mesmo os indivíduos que atingiram Nibbana(os Arahants) experienciam os Agregados, mas, livres de apego. Os Arahants só se libertam dessa experiência no momento de seu Parinibbana(morte), quando não mais irão renascer.
A mente tem a tendência à fugir para os prazeres sensuais quando experimenta sensações dolorosas, que podem ir desde a dor física até o tédio por exemplo, o desenvolvimento de Samadhi(concentração) é importante, também, na criação de uma sensação mental prazerosa que não depende de fatores externos. Essa sensação prazerosa provocada pela meditação serve como um pilar no caminho budista, se torna mais fácil renunciar aos prazeres mundanos quando sentimos esse contentamento interno.

O ápice do desenvolvimento meditativo, ou seja, o Samadhi mais elevado ocorre na experiência dos Jhannas. O momento imediatamente posterior à experiência dos Jhannas, é o ideal para desenvolver a sabedoria, é quando os Obstáculos estão completamente bloqueados, e o praticante pode ver a natureza dos fenômenos e desenvolver insights mais profundos.


"Não existe concentração (jhana) 
sem sabedoria,
e não existe sabedoria 
sem concentração.
Aquele que tem ambos concentração
e sabedoria,
está mais próximo
de Nibbana."

Os 5 Agregados do Apego devem ser entendidos e abandonados usando A Atenção Plena e a Plena Consciência (Sati Sampajañña), ou seja, devemos estar plenamente atentos e conscientes integralmente aos fenômenos físicos e mentais livre de apegos e aversões, apenas vendo o seu surgimento e cessação. Quando não estivermos praticando Anapanasati devemos ter Sati Sampajañña para ver o surgimento de quaisquer sensações, pensamentos, emoções, desejos. Devemos estar conscientes quando nos movemos, falamos, pensamos. Procuramos não fazer juízos de valor acerca deles, classificando-os como bons ou ruins, observamos o  surgimento e cessação, sem se apegar à alguns fenômenos ou querer fugir de outros, tentamos vê-los tais como são: emoções são apenas emoções, nós que damos significado.
É importante ressaltar que não devemos tratar todos os fenômenos como iguais, se surge desejo sensual não o alimentamos, mas quando surge um sentimento de compaixão, procuramos desenvolvê-lo. Deve haver esforço em manter e desenvolver qualidades mentais benéficas e em abandonar e inibir o surgimento de qualidades mentais prejudiciais.
Como vemos no primeiro discurso proferido pelo Buddha(Dhammacakkapavatana Sutta), devemos entender o sofrimento, devemos abandonar a sua causa(ignorância) e desenvolver o caminho que leva à sua cessação(Nobre Caminho Óctuplo). E para abandonar fenômenos que geram sofrimento, é conveniente ver as suas desvantagens, ver que são impermanentes e insubstanciais, por exemplo, e partir disso não se identificar com eles. 


                                                 Com Metta





      edit

0 comentários:

Postar um comentário